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Fonte: https://www.bahia.ws/rei-momo-pierro-arlequim-e-colombina-personagens-do-carnaval/ |
Quando criança, aos onze ou doze anos, era na escola que eu vivenciava o carnaval. No baile infantil, uma festa embalada pelas chamadas marchinhas que, mesmo numa época tão remota, já eram antigas. Eu adorava aquelas músicas, principalmente as mais românticas. Menino tímido, eu não me engajava em pular, correr ou jogar confetes nos amigos. Tampouco dançava. Eu me reservava a um canto do salão, a ouvir as músicas.
Ficava ali no meio da festa, alegre, mas tocado pelo que diziam as canções. Eu me comovia ao ouvir que a "Camélia que caiu do galho, deu dois gritinhos e depois morreu”. Sofria com a Jardineira triste e até imaginava a pobre Camélia a gritar. Eu não gritava por ela – sempre fui contido nas emoções – mas algumas lágrimas escorriam pelo rosto.
Eu era apenas uma criança e nada sabia sobre o amor. Não sabia o que era um Arlequim, um pierrot ou mesmo uma colombina, mas me sofria com eles e ficava imaginando o quão especial seria aquela mulher para fazer um pierrot e um Arlequin chorarem pelo seu amor. Eu me entristecia junto com aquele personagem que, no meio da multidão, chorava pelo amor da Colombina.
Como disse, eu nada sabia do amor. Ainda assim eu me apaixonava pela misteriosa Colombina que se tornou minha “paixão de carnaval”. Era por ela que eu esperava todos os anos, quando se iniciavam os festejos do carnaval e eu ouviria novamente aquela marchinha. Por ela eu chorava de tristeza novamente, escondido na multidão, é claro.
Muito tempo se passou e muita coisa mudou. Mudaram-se as músicas de carnaval, mudaram-se as musas e os temas que as inspiram. Hoje, em meio às coreografias e danças ousadas, diante das novas imagens do universo carnavalesco – um mundo de bumbuns e seios robustos expostos no salão –, não cabem mais um pierrot apaixonado, uma jardineira triste, um Arlequin choroso nem mesmo aquela columbina que tanto me encantaram.
Realmente, eles não cabem mais no salão, no meio da multidão. É no imaginário que eu os procuro e que de fato os encontro. E eu bem sei que ainda hoje eles existem na mente daquele menino de doze anos que ainda vive em mim.
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