Li Hecatombe,
romance escrito pela cearense Lucirene Façanha, publicado pelo Grupo
Editorial Caravana. Trata-se de uma obra literária que nos imerge nos meandros
do universo feminino, do amor, das fantasias, das dores, da loucura e da força
de uma mulher.
Novela, conto ou romance: uma pequena grande obra
Minha
primeira surpresa diante da obra foi motivada por seu formato pequenino e pelo
número de páginas – que são poucas. Mas isso, sejamos justos, não serve de
parâmetro para julgar a qualidade literária ou a ausência desta em um livro.
Simplesmente
imaginava-o mais volumoso, pois me fora apresentado como um romance. No
entanto, deparei-me com um livro em papel tamanho carta, de 47 páginas,
classificado como conto em sua ficha catalográfica. E novamente a classificação
me atordoa.
Com extensão
incomum para um conto moderno, imagino que até se enquadraria no gênero novela.
Lembrando que a excepcional Clarice Lispector até desprezava essa catalogação
em suas produções, fui à leitura da obra sem nenhuma preocupação com tal formalidade.
Ao
mergulhar nesta obra, percebe o leitor que o pequenino (quanto ao aspecto
físico) romance/conto/novela se agiganta pela profundidade e densidade de sua
narrativa. Esta se faz intensa, capaz de prendê-lo, de fazê-lo refletir sobre
seu próprio mundo e mergulhar nos desafios, nos dissabores, enfim nos meandros
do universo feminino.
Uma história em que o amor é desamor e loucura
Trata-se
de uma literatura engajada acerca do universo feminino. Há uma história de amor
– ou mesmo de desamor? – em que Ricardo, o “amante”, exerce um domínio sobre sua
“amada”, a protagonista anônima que, em primeira pessoa, conta sua história. É
a história de uma mulher que, de início, exala a vivacidade juvenil, a
esperança e projetos de vida futura. Ela passa pela fase de encantamento
amoroso até sua total anulação. Em todo esse périplo, vivenciamos a aflição da
personagem, seus fracassos enquanto busca a reciprocidade do sentimento em seu
parceiro. Por outro lado, testemunhamos, em seu companheiro, o que há de abjeto
nos estereótipos masculinos ainda hoje eternizados.
A
leitura de Hecatombe me veio logo após a de outras obras que também exploram o feminino.
Livros escritos por mulheres e protagonizados por personagens femininas: A
Vida Invisível de Eurídice Gusmão, de Martha Batalha
e A Mulher Mais Amada do Mundo, de Vanessa Passos. A
estas, que tão bem exploram temas como invisibilidade, relacionamentos
abusivos, machismo e outros que permeiam o mundo feminino, junta-se Hecatombe.
É com
competência narrativa e requintes de perversidade, que a autora nos apresenta
uma protagonista sujeita às mais humilhantes situações impostas por um parceiro
“amoroso”. Assim, ela consegue envolver, comover e até enfurecer o leitor. Mas isso
é bom. Segundo a escritora Tércia Montenegro – um grande nome da atual
literatura cearense – “uma boa obra literária deve causar uma reação no leitor,
deve provocá-lo e tirá-lo de seu conforto”. Certo é que o leitor de Hecatombe, angustiado,
revolta-se e quase implora por uma reação digna da heroína.
Ao
final, com o desfecho dado à protagonista, o leitor e – principalmente – a leitora
suspiram aliviados, embora cientes de que a história lida – fictícia, claro –
seja tão semelhante a muitas histórias vividas por mulheres reais que nem
sempre chegam a um desfecho ao menos semelhante ao de Hecatombe.
Hecatombe: uma obra eu você deve ler
Acredito
que deveria haver um estatuto que outorgasse ao leitor o direito de cobrar, dos
escritores, seu compromisso com a linguagem, sob o aspecto textual e o gramatical.
Direito de lhes cobrar o zelo pela boa escrita, pela construção frasal, pelo domínio
dos recursos aspectos normativos da língua. Em razão disso, todo texto merece,
da parte do autor, sempre mais uma leitura antes de sua publicação. Com toda a certeza,
ela engrandeceria ainda mais esta obra literária.
Encerro
esta resenha feliz pela oportunidade de ler ótimos livros de autores cearenses e,
mais ainda, por compartilhar sua leitura com o máximo de leitores possíveis.
Parabenizo
a escritora Lucirene Façanha, uma autora de nossa terra, pela escrita de Hecatombe.
O blog
A vida é crônica recomenda: leia-o com afinco!
obrigada pela leitura e reflexão.
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